Stand-up: A cacatua do vizinho

terça-feira, outubro 17, 2017 Clovisnáilton

Estava olhando aqui na internet sobre a cacatua, bichinho de Deus, né? Tão bonitinho esta ave, natural da Oceania, ou seja, longe pra caralho daqui. Mas o homem, sabe como é né, pro homem não importa a distância: já temos cacatuas no Brasil.

E temos cacatua na casa do meu vizinho. Sim, temos! Há 3 anos atrás estava eu, dormindo um sono dos justos, quando por volta das 5 e meia da manhã, sou acordado com um assobio. Era um cantarolar elaborado, muitos agudos, notas repetidas, um silvo que durava uns dois ou três fôlegos de atleta profissional olímpico. Pensei: "mas que porra é esta?" e abri a janela, que dá para a casa do vizinho, e o vi dando as primeiras aulas de assovio para a nova integrante daquela família: a cacatua.

Cinco e meia da manhã.

Cacatua-de-crista-amarela
Como meu sono é muito leve, tentei, em vão, voltar a pegar no tranco para ver se, quem sabe, dormia até umas nove, quem sabe e com muito gosto, dez da manhã. Mas nada... de três em três minutos, aula de assovio para a cacatua. Agora eu, aqui com meus botões e falando de sono leve, acredito que meu vizinho também tenha sono leve. Ou é acostumado a levantar cedo, quem sabe. Como ele sai de casa por volta das 6 e meia, o cara acorda, faz o que tem que fazer e vai cuidar da cacatua. Não... ele é metódico! Metódico, porque nem mesmo sábado e domingo ele não perdoa a cacatua: cinco e meia, aula de canto!


E lá se vão 3 longos anos de ensinamento para a porra da cacatua a mesma melodia. Gente, a cacatua é nova e o vizinho está querendo ensinar para a ave, usando de exemplos, uma 5a Sinfonia de Beethoven para uma bebezinha que está aprendendo o "parabéns para você"... no tecladinho! O vizinho quer ensinar a cacatua a falar, tipo, "inconstitucionalissimamente" para quem nem sabe falar "gugú-dadá". 

Deveria ter alguma lei para proibir este mal trato com o animal. Às vezes o viado do bicho não quer assoviar a porra da melodia, mas não, o dono quer que quer que o caralho de asa assobie a porra da música para ele ouvir. Mas que desgrama: cinco e meia é hora de ensinar cacatua, papagaio ou o caralho a quatro a assoviar? E de domingo à domingo?

E este domingo teve aula extra, acredita? Eu, quando olhei o relógio, era 7 da manhã e o vizinho ainda estava assoviando para a cacatua. Percebi que neste último domingo e nos dias anteriores acho que o penoso estava de greve... ou de saco cheio! Aliás, eu falando aqui, comigo mesmo, acho que a cacatua nem consegue entender porque o vizinho quer porque quer que ela assovie aquela porra da melodia. Teve um dia que eu estava passando e vi a cacatua, sozinha, de boa, roendo uma noz ou castanha, num silêncio angelical. Depois, quando passei novamente pela janela, percebi que ela estava pulando no poleiro dela, fazendo umas graças, vez em quando dava uns silvos (nada que lembrava a melodia imposta do vizinho) e mexia com sua crista, pra lá e pra cá. Aí, mais tarde, chega o vizinho para dar aula de canto para a cacatua... e foi a tarde toda de lição!

Eu passava pela janela e, com o rabo de olho, observava a cena: um animal assoviava, outro tentava ou fingia aprender. É coisa de Deus mesmo, não é, um bicho tão formoso aprender até mesmo pequenas palavras, frases, saber assoviar pequenas canções, não? Eu acho muito, muito válido, principalmente a persistência do vizinho que, em 3 anos, ainda não conseguiu tirar o bico da porra da cacatua nem 1% da melodia que ele assovia todo dia, às 5 e meia da madrugada, mas que não desanima jamais. Mas um dia dá certo, Deus é pai, não é padrasto. Persistência é coisa do homem, com certeza, e de outros animais que precisam disso para sobreviver, persistir. Viu que tá errado, tenta novamente até conseguir. Mas eu acho que a cacatua não liga muito pra isso, não. Aliás, se a gente pudesse entrar na mente da cacatua, quem sabe poderia até ver as frases 'não enche o saco, porra' ou, na mesma melodia assoviada pelo humano, um 'vai to-to-to-tomar no seu cu-cu-cú-oôoo".

Gente, Deus me perdoe, mas neste dia eu desejei que viesse um gavião do céu, desse um mergulho, daqueles rasantes e mortais, pegasse esta porra da cacatua e comesse o cú dela. Mas aí, pensando melhor, vi que o problema não era do animal, mas sim do ser humano. Na mesma hora, desejei à Deus que viesse um condor do céu, vindo lá do Chile, aquele pássaro gigante, desse um mergulho, daqueles rasantes e mortais, pegasse a porra do meu vizinho e comesse o cú dele... sem vaselina. Sacou? Comesse o cú... condor...

Mas, enfim, nem para desejar que a cacatua morra eu consigo. Aliás, seria até pior que se morresse, porque com certeza o vizinho iria comprar outra e começaria a lição lá do início, ou seja, seria o inferno. E, para meu deleite, li aqui que a cacatua pode chegar até os 75 anos de vida, acredita? Resta saber se até lá ela já aprendeu o assovio ou o professor dá bomba no bicho, não é?

Sabe, pensando bem, acho que vou mudar. Quer pegar o aluguel?

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