Era domingo, eu estava com minha bandeira do PT, linda, limpa e vermelha, enrolada num pedaço de bambu, dentro de um ônibus, indo em direção à região leste da minha cidade.

Era início de manhã, tipo nem seis horas. Eu sentava no banco da frente, ao lado do motorista. Não havia pago a passagem. O ônibus estava incrivelmente cheio pelo horário.

Não sabia onde ir. Perguntei ao trocador o endereço. Ele apontou e disse que era no ponto. Busquei moedas na calça... apareceram o preço justo. Passei, peguei a bandeira, enrolada, desci.

O número da rua era numa escola. Seguranças na porta. Deixei minha bandeira do PT na secretaria, busquei o número da sala. Lotada. Havia um lugar, umas duas ou três carteiras para chegar ao fim da sala.

Sentei. Na minha frente, a presidenta Dilma, bem mais jovem, usando um vestido de tecido grosso, na cor bege. Cabelos curtos, maquiagem clara, mão no giz e rabiscando o quadro negro. Ensinava política, mas a aula era sobre espiritismo, jurava que havia lido alguma coisa antes.

Do meu lado pessoas que não me lembrava quem era. De alguma forma, eram familiares. Eram jovens. Li alguma vez que os rostos que vemos em nossos sonhos são, na realidade, rostos verdadeiros, de pessoas que vimos algum dia e que nosso cérebro registrou. Uma moça do meu lado, um cara de cabelos crespos sentado atrás de mim, muitas, muitas pessoas que não sei quem é, mas sei que já vi, conheci, enfim, pessoas que já passaram pelo meu olhar e ficaram registrados no meu cérebro.

E a aula fluía.

Acordei.

Acordei, aprontei para trabalhar e, ao colocar meu tênis, ouvindo o noticiário na televisão, a reportagem sobre os embargos infringentes. Será que isso serve para pobre também?

Eu fiquei tão decepcionado que, acredito, o sonho com Dilma, PT e o escambau foi uma forma do meu subconsciente me dizer que está alerta!

NÃO PODEMOS DEIXAR O MENSALÃO ACABAR EM PIZZA!!!