Multiplica meu dinheiro, Senhor!!!
Acordei hoje no horário de sempre, ou seja, cinco horas da manhã. Estava um tanto escuro, a cama me convidava para mais 10 minutos de um sono acolhedor. Sabia que não podia, pois dez minutos deitado, àquela hora, era a mesma coisa de chegar 30 minutos atrasado no Supermercado do Seu Barbosa.
Me pus de pé, arrastando a sandália pelo corredor até chegar ao banheiro. Após uma rápida cagada, um escovar de dentes e um banho 'chuá', lá estava eu, pronto para tomar um café-com-leite e comer um pão-com-margarina.
Engoli, olhando o relógio.
No caminho para o ponto, encontrei Tãozinho, meu amigo religioso, evangélico efervescente - como falam lá no serviço - que me acompanhou num animado diálogo sobre como as coisas poderiam ser melhores se pudéssemos multiplicar nosso dinheiro.
Tãozinho disse que contribui com 10% do que ganha para o pastor... e contribui feliz, pois acredita que está fazendo sua grana multiplicar.
Eu não entendo isso, juro. Ele tira 10% do pouco que ganha e ainda acredita que está multiplicando sua grana. É coisa que nem o mais sábio matemático consegue me colocar na cabeça.
Tá, tudo bem que ele parou de beber, parou de ir à bares, parou com a putaria, parou com tudo... e nisso, ou melhor, e pode colocar ISSO na conta POSITIVA da igreja que ele segue. Tá, tudo bem que antes ele gastava quase 90% do seu salário com cerveja, balada, mulheres... e hoje ele, recluso em orações, só gasta 10% do salário.
No fim das contas, o dízimo é uma ajuda de custo para que ele não gaste os 90% do salário, em detrimento de míseros 10% do que recebe mensalmente.
Justo.
Só não foi justo quando o pastor passou, na rua do ponto de ônibus, dentro de um automóvel importado, zero quilômetro. Ele, de terno, gravata, todo estiloso, enquanto o pobre Tãozinho ia de ônibus, uma marmita na mochila e a certeza que teria um longo dia pela frente.
Injusto?
Sempre na vida, sempre na sociedade, as coisas são rotuladas desta maneira: há quem é rico, há quem é pobre; há que trabalhe para os ricos, há quem lucra com o suor dos pobres; há quem engana, há quem é enganado; há quem tem fé, há quem tem amor à bens materiais em demasia.
E, nesta selva de pedras, foi fácil quem é a presa e quem é o predador. O leão estava na BMW, o gnu andando de ônibus.
Ê, gente... eu dou meus 10% do salário na loteria. É o meu dízimo, sempre!
Mas um dia eu monto num automóvel importado...
Rá! Plagiando José Simão, "vou pingar meu colírio alucinógeno"...
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