O jogo de loteria mais popular do país está na sua terceira edição especial, a Mega-Sena da virada.

O prêmio oferecido de R$ 170 milhões e a certeza de contemplação - não existe possibilidade de acumulação da recompensa - aguçam ainda mais a disposição dos apostadores que, em sua maioria, desejam a quantia milionária para abrir o próprio negócio.

O bom momento da economia brasileira faz com que o conceito de empreendedorismo se popularize no Brasil.

"As pessoas estão muito incomodadas com a posição de subordinação. É difícil achar alguém que seja empregado e feliz, pois a cobrança por resultados está crescente e sufoca muitas carreiras. Em contrapartida é possível enxergar pequenos negócios prosperando, isso alimenta a vontade de empreender", diz Marcelo Nakagawa, professor de Empreendedorismo da Fundação Carlos Alberto Vanzolin.

O contabilista Francisco Melo investiu, de uma só vez, R$ 616 em apostas para a Mega da virada. "Há mais de dez anos tenho vontade de abrir uma consultoria jurídica. Se for contemplado, pretendo cursar a graduação de direito em uma universidade da França a fim de me preparar para o negócio", conta.

Melo afirma ainda que conseguiria guardar em três anos o montante de R$ 300 mil, necessários para abrir a empresa. "Mas se for contemplado com uma quantia maior, o negócio será mais viável. É muito difícil empreender hoje no Brasil. A mão de obra está muito cara e tenho receio das leis trabalhistas. Com o prêmio teria a vida menos conturbada que sempre sonhei", planeja.

Para Rose Mary Lopes, coordenadora do núcleo de empreendedorismo da ESPM, a visão de negócios do contabilista está à frente da população em geral. "O brasileiro tem uma imagem romântica do empresário.

Acha que este possui um status social mais elevado e é reconhecido pela sociedade. Mas existe também o lado não glamouroso que é a batalha cotidiana para fazer um negócio sobreviver e crescer. As pessoas não têm a dimensão de como é difícil fazer isso", adverte.

À parte dos negócios na cidade, Luiz Ferreira da Silva tem o sonho de ser seu próprio patrão administrando uma fazenda. Lula, como prefere ser chamado, tem em comum, além do nome, a teimosia do ex- presidente da república, o Luiz Inácio, que assumiu o maior posto político do país somente na quarta candidatura. Há oito anos, o vigilante de 43 anos faz suas apostas impreterivelmente todos os dias.

O objetivo é comprar uma fazenda em Alagoas para criar gado. "Gasto por mês, em média, R$ 600 com jogos. Somente na Mega da virada já desembolsei R$ 700". Ele afirma que o dinheiro não faz falta no orçamento da casa. "Já cheguei a ganhar R$ 60 acertando a quina. Acredito que o jogo ainda vai me proporcionar a quantia suficiente para realizar meu sonho."

A Mega da Virada arrecadou até agora em apostas mais de R$ 195 milhões com a venda dos bilhetes. De acordo com a Caixa Econômica Federal, todas as loterias brasileiras arrecadaram em 2010 R$ 8,8 bilhões.

A distribuição do total é feita da seguinte maneira: 46% são destinados ao pagamento dos prêmios; 20% são usados para custear a manutenção dos jogos; e 34% são repassados para programas federais de educação, esportes, saúde, reabilitação e seguridade social.

Este último item fica com a maior fatia, de 18,1%, seguido do Fundo de Investimento do Estudante Superior (Fies), que recebe 7,76% do montante e o Fundo Penitenciário Nacional acolhe 3,14% do valor.