Estávamos conversando no Bar da Véia Lidu, tomando umas cervejas e comendo uns tira-gostos caprichados quando - e como sempre - tocamos no assunto dinheiro. Aí de dinheiro, vem o assunto crise econômica, de crise econômica passa para desemprego, dificuldades encontradas nestes dias atuais em manter a casa, na luta diária para o mínimo, a sobrevivência.

Nisso meu amigo Tãozinho, que não bebe (aliás, não está bebendo, depois que passou a ser evangélico) fez a pergunta para o pessoal da pelada:

- E se vocês ganhassem uma bolada na loteria, tipo muito dinheiro, qual a primeira coisa que faria?

O Tobias, zagueiro do time, falou que iria comprar uma casa na praia. O Desdentado falou que iria morar no exterior. Eu falei que iria passar uns 3 meses só pensando no que faria com a grana... e foi assim, até chegar no Zé, que falou, com a cara séria: "eu separaria da minha esposa!".

Todos riram, gargalharam, até o Zé...

O Zé é um cara muito inteligente, tem uns 60 anos, gosta de uma cerveja, um futebol (tanto que joga com a gente faz um tempão e não para de jeito nenhum), gosta de tocar um violão, bom de prosa, um cara sem igual. Mas a resposta do Zé ainda estava no ar quando Tãozinho complementou o que todos queriam perguntar... "mas porque?"

É. Um tempão juntos ele e a esposa, filhos criados, aparentemente uma família feliz...

Foi quando ele começou a falar que, mesmo juntos por muito tempo, com uma quantidade de dinheiro desta, era praticamente impossível manter o relacionamento por conta dos extremos! Extremos, complementou, era que ele é muito diferente da esposa. Por exemplo, se ele quisesse ir para a Europa, ela queria ir para a Ásia. Se ele quisesse praia, ela queria interior. Se ele quisesse amarelo, ela queria azul. E a vida dele sempre foi desta maneira, ora concordando, ora sempre cedendo, mesmo que contra sua absoluta vontade.

Ficamos ouvindo, calados...

O Desdentado fez uma piadinha, o Jumentex, que também é amigo nosso de infância, fez uma graça e o assunto morreu... mas eu fiquei com aquilo na cabeça o domingo todo: separar?

Muita das vezes olhamos um casamento por fora e sequer nos atinamos com o que está dentro dele. Nós, que estamos só observamos, vimos muitas vezes uma casca do "feliz casal" que se apresenta nas igrejas, nas festas, nas reuniões escolares, e não nos damos conta que há infelicidade na felicidade estampada nos rostos, jeitos, abraços e etc. É triste constatar isso, principalmente nas pessoas próximas, mas muitas das vezes é a pura realidade.

E aí, quando o caboclo dá uma sorte grande na loteria, o que fazer? Tentar "remendar" anos e anos de tristeza com dinheiro? Com viagens? Com uma melhoria significativa de vida social? Não... o desgaste emocional já foi praticamente finalizado, o amor acabou faz tempo e o que existe é simplesmente uma forma de sobrevivência entre duas pessoas em prol de um objetivo em comum: manter a família ou manter as aparências.

Não sei se o Zé está certo no pensamento dele, mas não o julgo. Pensa, ou melhor, imagina: vai que o cara, que é casado, ganha na Mega-Sena R$ 60 milhões, sozinho. A metade do dinheiro já é da esposa, isso é fato (se ele estiver casado em comunhão parcial de bens ou universal). Ele ali mesmo já passa os 30 milhões para a esposa e dá no pé... não estou brincando não! Eu, uma vez, comentei um caso aqui no blog de um casal, separado de corpos (mas casado no papel) e o cara ganhou na loteria... resultado: metade era da cobra. E o cara teve que pagar para a ex a metade do que ele ganhou. Comentei, também, que a coisa a ser feita neste caso é separar de fato, na justiça mesmo, para evitar isso...

Mas no caso do Zé, pra terminar, isso nunca vai acontecer, porque ele não joga na loteria. Só em vez em quando, tipo final do ano, nos nossos bolões.

Tadinho do Zé...