Antes de ontem o Seu Barbosa me mandou ir lá no centro da cidade, de manhã cedo, para pegar um documento com o médico dele. O consultório do tal médico é num prédio, uns 30 andares, e é costume o meu gerente me mandar lá, quase todo mês. 

Pois bem... cheguei no tal prédio antes das 8 horas da manhã, fila imensa para o elevador. Nisso, chegou o bendito e todo mundo se espremendo para caber. Não é que haviam duas pessoas subindo já tomando o seu café da manhã? Um tomava um copo cheio de café com leite e mastigava um pão de queijo; o outro um copo de chocolate, junto com pastéis. E todo mundo se espremendo naquele reduzido espaço.

Como é que pode - pensei - num prédio chique assim, não ter uma proibição de se levar alimentos dentro do elevador. Vai que acontece algum acidente, uma pessoa passa, esbarra, cai a merda do chocolate na outra ou derrama no chão... ah, isso tá errado.

Eu geralmente deixo estas coisas para lá, sabe? Não sou daqueles que, infelizmente, vê uma coisa errada e sai logo desembestado batendo de frente com a pessoa. Poderia ter falado para os dois rapazes que, se fossem entrar num elevador com aqueles copos, poderiam, primeiro, tratar de usar uma tampa ou, melhor ainda, que se consumisse o alimento antes de entrar no elevador.

Resolvi fazer melhor: na descida, fui falar com o porteiro do prédio. Relatei o fato, na maior educação, e ele respondeu:

"... só para você ter ideia, ontem de noite eu estava olhando aqui pelo monitor dois rapazes dentro do elevador 2. Eles estavam descendo para o térreo e vi quando um ajoelhou e abriu o zipper da calça do outro. E o elevador foi descendo direto, pois já era noite e quase ninguém fica no prédio, e quando eles chegaram aqui embaixo, eu falei com eles que não podia fazer aquilo. Eles responderam: 'mas se pode tomar toddynho dentro do elevador, porque não posso ajudar a fechar a barguilha da calça do meu namorado?'"

Eu ri. Ri alto e fui andando para fora do prédio.

E eu fui cuidar da minha vida...