Contos da Mega-Sena

quarta-feira, junho 01, 2011 Clovisnáilton


A mulata e a Mega-Sena.

Seu Manuel tinha uma padaria no Catete e era apaixonado por uma mulatinha de vinte e poucos anos, de nome Cristina. Como todo bom português, intercalava galanteios com brincadeiras sobre os luzitanos, sempre deixando à mostra seus sentimentos verdadeiros: de levá-la pra cama!

E ela, entrando na brincadeira: "juro que serei sua só no dia que o senhor ganhar na Mega-Sena, Seu Manoel". Logo ele, que nem jogava! Brincando, brincando, passou à freqüentar a casa lotérica, fazendo seus jogos. No dia do sorteio, quando Cristina vinha buscar seus pães, levantava do caixa o volante feito e dizia, em tom de esperança, que estava prestes à conseguir o que queria. Ela debochava, ria faceira, e ia embora, rebolando aqueles quadris moldados para os olhos do velho patrício. 

Um belo dia, o destino sorriu para a cidade do Rio de Janeiro, especificamente para o bairro do Catete. Manoel, mal contendo a ansiedade, conferiu seu bilhete e lá estava os seis números sorteados. O primeiro pensamento: Cristina, a mulata dos seus sonhos. Foi à casa dela, esbaforido, e contou-lhe a novidade. Ela não acreditava no que seus olhos viam: um homem totalmente alucinado por uma jura de amor, de desejo, uma jura dada àquele homem, prostrado de alegria em sua frente.

Fez todo o caminho para 'resgatar' o prêmio. No mesmo dia, comprou vários presentes para Cristina e mandou entregar em sua humilde casa. Os olhos da mulata refletiam um brilho de apreensão, juntamente com o mistério de se ver envolvida pelos braços do Seu Manoel, que tinha idade para ser seu avô. Deixou-se levar pela emoção, pelo tesão e pela curiosidade... e disse sim! 

Ele parou com um carro novo e bateu a campainha. Ela usava um vestido curto e moldado no corpo, vermelho. Usava cabelos soltos, usava o perfume que havia recebido de presente - dos melhores, como pediu o português à vendedora - e usou de toda sua elegância se despedir dos olhos de quem via a cena. Rumaram para o melhor motel da cidade, no outro extremo do Rio de Janeiro.

Promessas de beijos, de carícias, de sexo. Poucos minutos após entrarem no quarto, Seu Manoel morreu. Querendo impressionar positivamente sua bela mulata, o português comprou uma cartela de Viagra e, para garantir o 'bom desempenho' sexual para a mulher dos seus desejos, tomou todos os comprimidos, todos, tendo um infarto fulminante antes mesmo de ter Cristina, de possuir Cristina, a mulata, a bela mulata que matou o ganhador da Mega-Sena do Catete.

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